O contra-ataque russo que acabou em Berlim





Por que a Alemanha invadiu a União Soviética?

No seu livro Mein Kampf, escrito na década de 1920, Hitler afirmava que se voltaria para a URSS para obter o Lebensraum, ou "espaço vital", a que a nação alemã, segundo ele, tinha direito. Para Hitler, os eslavos russos eram racialmente degenerados, uma massa de "escravos natos".
Nada disso o impediu de assinar um pacto de não-agressão com a União Soviética em agosto de 1939. Porém, como explicou numa conferência de dirigentes nazistas: "O meu pacto era só para ganhar tempo. Esmagaremos a União Soviética".
O pacto incluía um acordo sobre a divisão da Europa Oriental entre a Alemanha e a União Soviética, depois do ataque conjunto à Polônia que deu início à Segunda Guerra Mundial. Os russos, porém, apoderaram-se de muito mais território do que aquele que lhes estava destinado no pacto.
Enquanto as relações russo-germânicas pioravam, Hitler planejava uma invasão maciça ao seu antigo aliado. Para isso, reuniu uma enorme força de mais de três milhões de homens.
Nas primeiras horas do dia 22 de junho de 1941, os alemães atacaram. Os russos estavam totalmente desprevenidos e os alemães avançavam 80km por dia, mas diminuíram a marcha quando começaram a ficar sem mantimentos. As suas linhas de abastecimento estavam no limite e os russos praticavam uma política de "terra arrasada", destruindo todos os recursos locais à medida que iam retirando.
Não obstante, em 2 de dezembro, os alemães estavam a 30km de Moscou. Quatro dias mais tarde, porém, um contra-ataque soviético obrigou-os a recuar. Ao chegar a primavera russa, o degelo transformou a terra num lamaçal e impôs uma trégua.
No verão seguinte, Hitler decidiu lançar uma investida maciça na direção sul e leste, numa tentativa de se apoderar do petróleo da Rússia e do trigo de Cáucaso.

O que levou Hitler a atacar Stalingrado?

Stalingrado não era, a princípio, um alvo importante nas ambições expansionistas de Hitler. Em abril de 1942, deu ordens para que a cidade fosse conquistada ou neutralizada, mas só como complemento do grande avanço para o sul, em direção ao Cáucaso. Só três meses depois escolheu a cidade como objetivo principal.
Talvez Hitler temesse que Stalingrado pudesse ser utilizada pelos russos como base para ataques aos seus flancos no Cáucaso. Talvez sua decisão refletisse um plano anterior que fizesse de Stalingrado a base para um avanço para o norte que viesse a cercar Moscou. Ou talvez o ditador alemão precisasse do estímulo de conquistar a cidade - anteriormente designada Tsaritsyn - a que Stalin tinha dado seu próprio nome.
Tendo-se empenhado na tomada de Stalingrado, Hitler não podia aceitar que se tratava de um objetivo impossível e agia como se as suas ordens para derrotar o inimigo, a sua vontade de vencer e os seus sonhos de vitória materializassem a realidade que procurava.

Por que o ataque alemão falhou?

A catástrofe alemã em Stalingrado foi causada em grande medida pelos erros cometidos por Hitler, que tinha assumido o controle pessoal das forças alemãs em dezembro de 1941 - uma decisão bizarra, considerando que ele se encontrava a 1.600km do local de ação. Estes erros tinham origem na fé que depositiva no seu próprio gênio militar, nos seus sonhos de grandeza e na sua visão deturpada da realidade.
A investida alemã no Cáucaso em 1942 foi a princípio bem-sucedida, mas Hitler, tomado pelo excesso de confiança, começou a fazer alterações no plano inicial.
Em 13 de julho, deu ordens para atacar Stalingrado. Quatro dias mais tarde, porém, prejudicou gravemente o ataque, transferindo a 4ª Divisão Blindada, do general Hoth, que participava do ataque, para o sul com o objetivo de apoiar as forças no Cáucaso. Se tivesse deixado os tanques em Stalingrado, os alemães poderiam ter facilmente conquistado a cidade, mal defendida. Em 29 de julho, mudou de ideia e deu ordens para os tanques regressarem, mas a essa altura os russos já tinham reforçado suas defesas. Logo que o ataque foi lançado, os russos fizeram tudo para que os alemães lutassem em condições a que não estavam habituados, tornando inúteis suas táticas.
Os russos mantinham-se tão perto do inimigo que a Luftwaffe não conseguia bombardear a linha da frente soviética. Se os alemães queimavam edifícios, as ruínas eram transformadas em melhores fortalezas. Se bombardeavam as ruínas, os escombros bloqueavam as ruas da cidade aos tanques alemães, e cheios de minas e trincheiras em ziguezague, davam proteção aos russos. Em espaços fechados, os tanques eram alvos fáceis, obrigando a infantaria alemã a lutar muito perto dos adversários, forma de combate que detestavam. Durante toda a batalha, Hitler ignorou os seus generais e recusou-se a acreditar nas más notícias. As suas ilusões levaram a um revés do qual a Alemanha nunca se recuperou.

O que se seguiu à batalha?

Com a vitória de Stalingrado, os russos recuperaram o ânimo. O poderoso exército alemão tinha sido derrotado e tornava-se evidente que não era invencível. Além disso, cerca de duzentos mil russos foram enviados para participar de um ataque maciço na direção do mar Negro, que cercava quase 250 mil alemães.
No verão europeu de 1943, os alemães lançaram uma contra-ofensiva, que viria a constituir a maior batalha de tanques de todos os tempos. Cerca de um milhão de homens e dois mil tanques atacaram em duas frentes que se destinavam a furar e destruir uma frente russa perto da cidade de Kursk.
Mas os russos, avisados, convocaram 1,3 milhão de homens e 3.500 tanques. Cavaram centenas de quilômetros de trincheiras, defendidas por arame farpado e minas colocadas a intervalos de 30cm, ao longo de toda a sua linha da frente. Os alemães avançaram muito pouco contra esta obstinada resistência russa - as suas frentes cobriam menos de um décimo da distância necessária para encurralar o inimigo.
Em 12 de julho, a 4ª Divisão Blindada alemã atacou perto da aldeia de Prokhorovka, numa tentativa de romper as defesas soviéticas, mas esbarrou com o 5° Exército Russo de Guardas de Tanques. Os T-34 russos aproximaram-se rapidamente dos Panteras, Tigres e Ferdinands alemães. O campo de batalha ficou envolvido por um nevoeiro de fumaça e poeira, e o solo ficou coberto com os destroços dos tanques em chamas.
Ao fim do dia, Hoth tinha perdido mais de trezentos tanques e dez mil homens. Embora as perdas russas fossem provavelmente igualmente elevadas, o anunciado rompimento das suas linhas tinha sido impedido.Uma semana mais tarde, Hitler suspendeu a ofensiva, pois necessitava de forças suplementares para enfrentar uma nova emergência - os Aliados atacavam na Sicília.

O curso da guerra volta-se contra a Alemanha:

Depois de terem libertado Stalingrado, os russos empurraram os nazistas para o Ocidente. Ao mesmo tempo, os Aliados atacavam a Alemanha em outras frentes.
  • Norte da África: 4 de novembro de 1942 - Vitória dos Aliados em El Alamein, Egito.
  • Norte da África: 12 de maio de 1943 - Os nazistas rendem-se na Tunísia.
  • Mediterrâneo: 10 de julho de 1943 - Os Aliados desembarcam na Sicília, entrando na Itália dois meses mais tarde.
  • URSS: 27 de janeiro de 1944 -  A Rússia liberta Leningrado após um cerco de dois anos e meio e 1,5 milhão de mortos.
  • França: 6 de junho de 1944 - Desembarque aliado na Normandia.
  • Alemanha: 7 de março de 1945 -  As forças aliadas entram na Alemanha.
  • Alemanha: 30 de abril de 1945 - Hitler suicida-se no seu bunker.
  • Alemanha: 2 de maio de 1945 - Berlim cai em poder dos russos.
  • França: 7 de maio de 1945 - Os alemães assinam rendição em Reims.

Observações:
** Em 1942, a Rússia produzia mais armamento do que a Alemanha. Com linhas de comunicação muito menores do que as do inimigo, os russos podiam enviar em comboios tanques, armas e mantimentos para a frente de batalha.
** A Batalha de Kursk envolveu mais de seis mil tanques. Embora os tanques alemães tivessem maior potencial de fogo, os T-34 russos utilizavam a sua maior capacidade de manobra.
** Havia pouco espaço de manobra em Kursk e os tanques eram obrigados a travar batalhas em pequena distância.