Manifesto do Partido Comunista





O Manifesto Comunista, que resultou de uma reunião secreta em Londres, pregava uma sociedade sem classes que nasceria das cinzas de uma revolução internacional.

Uma sala sombria no centro da cidade de Londres foi, em novembro de 1847, o local de reunião de várias dezenas de trabalhadores, cujas deliberações secretas viriam a ter repercussões por toda a Europa e, mais tarde, por todo o Mundo. Esses homens eram os delegados do primeiro encontro da recém-formada Liga Comunista, liderada pelo pensador alemão Karl Marx.
"Os filósofos apenas interpretaram o mundo de forma diferente; o nosso objetivo é mudá-lo", Karl Marx.
Os alfaiates alemães formavam o principal grupo na reunião, mas o número de delegados aumentou para aproximadamente cem graças à presença de cartistas ingleses, membros de um movimento operário britânico que exigia reformas parlamentares.






Marx difundiu seu pensamento em várias obras ao longo de quase quarenta anos. O Capital, redigido em Londres, foi seu livro mais importante, e um verdadeiro credo para milhões de pessoas.
Observação aos interessados: Quem estiver pensando em ler O Capital, é válido dar uma lida antes no Manifesto que é como uma "introdução" dessa obra do autor.







No encerramento do encontro, os delegados pediram a Karl Marx, como seu presidente, que elaborasse uma exposição dos princípios aprovados. O resultado, publicado três meses mais tarde, foi o Manifesto Comunista, um apelo para que os trabalhadores explorados de todo o Mundo fizessem valer os seus direitos e derrubassem o sistema capitalista. Marx visitou a Inglaterra pela primeira vez no verão de 1845, a convite de Friedrich Engels, seu amigo e pensador socialista. Marx tinha acabado de completar 27 anos, e Engels era alguns anos mais novo. Os dois tinham colaborado na redação de um livro intitulado A Ideologia Alemã, mas, mais importante ainda, Engels apresentou a Marx o mundo capitalista das fábricas de algodão inglesas. Engels conhecia a fundo esse mundo: era filho de um comerciante de algodão e trabalhava na sucursal de Manchester da empresa da família, sediada na Alemanha.
Quando Karl Marx desembarcou em Manchester, tinha já chegado à conclusão de que a História era uma contínua luta de classes. No século XIX, afirmava, a luta entre capitalismo e feudalismo tinha sido claramente ganha pelos capitalistas. A luta que viria a seguir, segundo as suas previsões, seria entre capitalistas, ou burguesia, e o proletariado, o operariado industrial. Nas "escuras e satânicas fábricas" do norte da Inglaterra, Marx pensava entrever a natureza e o resultado desse choque de classes. De fato, ali tinha observado os prósperos proprietários das fábricas de algodão que obtinham lucros máximos do esforço de uma classe operária forçada a trabalhar longas horas em fábricas fétidas e a viver em casebres insalubres e superlotados.
A Grã-Bretanha era a primeira nação industrial do mundo: a indústria do algodão tinha incentivado uma produção fabril em grande escala. Era também o país mais rico e com maior volume de comércio do mundo - o verdadeiro paradigma do capitalismo industrial. Marx concluiu que a acumulação de riqueza pelos proprietários das fábricas - graças à expropriação de uma parte do trabalho dos operários - tinha forçosamente de originar um conflito entre a burguesia e a classe trabalhadora que acabaria numa revolução e na inevitável vitória do proletariado.
Por toda a Europa, a palavra "revolução" estava na boca das pessoas. Governantes como o príncipe Metternich, da Áustria, e Luís Filipe, rei da França, pressentiam que a ordem estabelecida depois da derrota de Napoleão e do fim das "guerras revolucionárias" estava à beira de um desafio decisivo. Na Inglaterra, uma crise financeira gigantesca e o colapso do sistema de crédito, em 1847, levou à falência um banco após outro, como se fossem castelos de cartas. Estava na hora, segundo Marx, de realizar uma conferência internacional da pequena Liga Comunista, a primeira organização operária internacional.
"O capital é mão-de-obra morta que, tal como um vampiro, se alimenta apenas de sugar mão-de-obra viva, e tanto mais vive quanto mais o faz", Karl Marx.
O Manifesto do Partido Comunista, resultado desta conferência, é em geral atribuído a Marx e Engels em conjunto. Mas a atribuição de Engels se deu apenas sob forma de algumas sugestões que assinalou numa carta. O texto é todo de Marx, que o escreveu em Bruxelas, durante os meses de dezembro e janeiro. Em fevereiro, O Manifesto foi publicado em alemão, sob a forma de um panfleto de 23 páginas, por um tipógrafo alemão no bairro londrino de Bishopsgate. Em 1848, foi traduzido para o sueco e dois anos mais tarde para o inglês. A primeira tradução russa foi publicada em 1869, e a primeira portuguesa surgiu em 1872-73, em folhetins, uma das primeiras revistas socialistas portuguesas.





O Manifesto Comunista é lembrado como o "texto sagrado" do comunismo e nele, Marx sublinhava os principais objetivos do comunismo, entre os quais se incluíam:

  • A abolição da propriedade das terras e a aplicação de toda a renda delas em fins públicos
  • A abolição do direito de herança
  • Centralização do crédito em bancos estatais
  • Centralização dos transportes nas mãos do Estado
  • Educação gratuita para todos em escolas do Estado
  • Aceitação do direito ao trabalho.
Apesar de ter sido escrita em alemão, idioma pátrio do seu autor, a primeira edição do Manifesto, como já dito, foi publicada em Londres, em 1850.





O Manifesto tem cerca de 12 mil palavras, e a sua concisão foi uma das suas grandes forças. Um ensaio filosófico longo e complexo, que Marx também escreveu, não teria atraído os operários aos quais se dirigia. Algumas frases-chave do Manifesto tornaram-se bandeiras do movimento operário inspirado pelo marxismo durante décadas. Na frase de abertura do Manifesto lê-se: "Um espectro assombra a Europa - o espectro do comunismo".
E o apelo final à ação: "Os trabalhadores não têm nada a perder, a não ser as suas cadeias. Eles tem um mundo a ganhar. TRABALHADORES DE TODO O MUNDO, UNI-VOS!".
Marx entendia o conjunto das relações sociais ao longo da História como um processo, sujeito a uma dialética, em que estão envolvidas relações de produção. É esta visão materialista da evolução das sociedades e do desenvolvimento das contradições dos interesses entre as classes que Karl Marx e Friedrich Engels vão transformar em slogan ao longo do Manifesto. Na célebre frase "A história das sociedades até hoje existentes é a história da luta de classes" estava contido todo um programa para a posterioridade, tão aplaudido quanto combatido.
Com o que Marx considerava ser a força da História a impulsioná-lo, do proletariado finalmente unido sairia a revolução internacionalista. Ela representaria o fim da sociedade de classes e, em última análise, o fim do próprio papel do Estado.
Este componente de profecia política e social da doutrina marxista será desenvolvido ao longo do século XX, imprimindo-lhe Lenine e a Revolução Russa de Outubro de 1917 uma marca histórica fundamental. Do marxismo sairá assim a história - e também a tragédia - das suas interpretações.

Observações:
** Friedrich Engels, amigo e conterrâneo de Marx, publicou em 1844 o seu próprio ataque ao capitalismo em A Situação das Classes Trabalhadoras na Inglaterra.
** Só para constar: As opiniões políticas das administradoras em nada alteram/deturpam a veracidade dos textos aqui postados, nosso compromisso é apenas o fato. Não existe posicionamento político neste blog.