Reinado de terror do czar: Ivan, o Terrível





Apoiado por uma polícia brutal, Ivan transformou a Rússia numa potência, e assassinou o próprio filho.

Ivan, o Terrível e seu filho Ivan no dia 16 de novembro de 1581 - (1885), Ilya Repin

Na aldeia de Alexandrovsk, a mais de cem quilômetros ao norte de Moscou, Ivan IV, czar de todas as Rússias, esperava notícias de uma campanha em que o seu exército estava empenhado na fronteira norte da Rússia. Seu filho e herdeiro, Ivan Czarevich, de 27 anos, de pé a seu lado, fez um comentário depreciativo. Num acesso de cólera, Ivan fez girar o seu bastão com ponta de ferro e bateu no filho numa das têmporas, ferindo-o com tal gravidade que ele morreu quatro dias mais tarde.
Este fato, ocorrido em novembro de 1581, foi o ponto culminante de uma vida marcada pela crueldade e o derramamento de sangue. O nome de Ivan lançou uma sombra enorme e sinistra sobre a história inicial da Rússia. Contudo, embora o conheçamos como "o Terrível", o adjetivo russo grozny pode também significar "inspirador de admiração", e, sem dúvidas, ele inspirou admiração, bem como temor, aos súditos do seu vasto país.
Durante os quase quarenta anos do seu reinado, Ivan converteu a Rússia, um país atrasado e semibárbaro, numa potência importante.
O lado tortuoso do caráter dele tinha raízes na sua infância. O pai morreu em 1533, quando Ivan tinha apenas três anos, e Ivan o sucedeu como príncipe de Moscou, efetivamente soberano da Rússia, com a mãe, Helena, no papel de regente. Helena morreu em 1538, talvez envenenada por príncipes hostis, e Ivan, com oito anos, teve que tomar conta de si próprio, rodeado por uma corte de príncipes menores ávidos de poder e de boiardos (proprietários de terras) que o insultavam e desprezavam.
À medida que Ivan crescia, o seu caráter ia sendo pervertido. Era encorajado a atirar em cães e outros animais das muralhas de Kremlin e adquiriu o hábito de galopar com os amigos pelas ruas lamacentas de Moscou. Durante a sua juventude, podia atacar e violar qualquer moça que lhe apetecesse. Em janeiro de 1547, Ivan, com 16 anos, foi coroado "czar de todas as Rússias". Usou as insígnias reais que herdou do Império Bizantino, que terminou em 1453, quando os turcos conquistaram Constantinopla. Pouco depois, casou-se com a filha de um boiardo, Anastácia, que escolheu entre as 1.500 das mulheres mais bonitas do país. Delicada e serena, ela deu a Ivan o calor e a segurança da vida em família que há muito lhe eram negados. Mas em 1560, após 13 anos de casamento, Anastásia morreu, tendo dado a Ivan seis filhos, dos quais só dois sobreviveram à infância.
Enquanto isso, Ivan subjugava os tártaros nas fronteiras da Rússia, libertando os povos fronteiriços da ameaça constante de massacre e escravidão e abrindo caminho para a colonização da Sibéria, mais a leste. No país, Ivan formou um conselho de ministros de confiança, ignorando a assembleia de boiardos. Encorajou os eruditos da Europa Ocidental a visitarem a Rússia, estabeleceu laços comerciais com a Inglaterra e tentou introduzir a imprensa.

Selo do estado de Ivan

Com a morte de Anastásia, Ivan tornou-se cada vez mais instável. No inverno de 1564, suspeitando que todos os príncipes e boiardos conspiravam contra ele, mandou carregar dezenas de trenós com o tesouro e os ícones do Kremlin e partiu com a família para Alexandrovsk. Em cartas que escreveu para Moscou acusou os boiardos de planos de traição e ameaçou abdicar. Uma delegação de bispos, boiardos e dignitários da corte caminhou pela neve para lhe implorar que regressasse.
No entanto, ele já não era a figura poderosa e imponente que tinha deixado Moscou dois meses antes. Após uma grave depressão nervosa, aos 34 anos parecia um velho.



Polícia secreta a cavalo.

Ivan organizou um corpo escolhido de seis mil guardas, ou oprichniki. Com uniformes escuros e montando cavalos da mesma cor, faziam justiça por suas mãos. As suas selas ostentavam um emblema com a cabeça de um cão e uma vassoura para mostrar como perseguiam os traidores e mantinham a Rússia limpa. Ivan assegurava-se da sua lealdade concedendo-lhes terras tiradas de boiardos espoliados e dando-lhes ruas e bairros inteiros de Moscou. Um núcleo implacável de trezentos oprichniki formava uma simulada irmandade monástica, mantendo serviços religiosos seguidos por sessões na quais os prisioneiros eram torturados à vista de Ivan.
No início de 1570, julgando que a cidade de Novgorod conspirava contra ele, Ivan resolveu fazer dela um exemplo. Dispondo um cordão de tropas em redor das muralhas para impedir qualquer fuga, ordenou o massacre de monges e abades, que foram espancados até a morte. Cidadãos importantes foram torturados, tiveram as costelas arrancadas com tenazes e foram fervidos em caldeirões, esfolados vivos, assados ou empalados. Os habitantes da cidade foram esquartejados pelos oprichniki ou lançados ao rio Volkhov. Morreram cerca de sessenta mil homens, mulheres e crianças.
Comparado com tão grande massacre, o assassínio do seu próprio filho quase parece um crime menor. Mas o seu impacto sobre o czar foi enorme. Sem sono, vagueava pelo Kremlin, uivando. Menos de três anos mais tarde, em 1584, morreu de uma doença que fez inchar o seu corpo de uma forma horrível. Sucedeu-lhe o seu filho mais novo, Feodor, cuja morte prematura, em 1598, acabou com a linhagem de Ivan. Seguiu-se um período de caos que fez muitos russos lembrarem com certa nostalgia a estabilidade do reinado sangrento de Ivan, o Terrível.

Observação:
Ivan, o Terrível viveu à altura do seu nome ao matar o seu filho mais velho, Ivan, num momento de cólera. Foi um ato de que se arrependeu, chegando a acreditar que a morte do filho foi um castigo de Deus pelos seus pecados. Contudo, Ivan não teve remorsos pelos milhares de russos que foram açoitados, torturados e enforcados durante o seu longo reinado de terror.