Campanha mundial pelo voto feminino





Como começou o movimento das sufragistas?

Podemos datar em 1792 o início do movimento pelo sufrágio feminino na Grã-Bretanha, com a publicação de A Vindication of the Rights of Woman ("Reivindicação dos Direitos da Mulher"), de Mary Wollstonecraft. A luta foi continuada por pessoas como Elizabeth Garrett Anderson, que, impedida de frequentar uma escola médica, estudou particularmente e em 1865 tornou-se a primeira mulher formada em Medicina na Grã-Bretanha.
Estas questões incluíam a falta de direitos das mulheres casadas, derivada da própria legislação em vigor na Grã-Bretanha. Sir William Blackstone, jurista do século XVIII, expôs a sua opinião sem rodeios: "O próprio ser ou a existência legal da mulher fica suspensa durante o casamento ou, pelo menos, é incorporada e consolidada na do marido".
Em 1832, a Lei da Grande Reforma concedeu direito de voto a mais quinhentas mulheres. Em 1867, a Segunda Lei da Reforma aumentou o número de votantes para cerca de 2,5 milhões de chefes de família homens numa população de 22 milhões, o que desencadeou uma nova onda de protestos, apoiada por muitos escritores e filósofos.
Na década de 1890, o movimento sufragista estava bem consolidado, e de um pequeno grupo de pensadoras transformou-se numa força crescente de mulheres de todas as classes sociais. Na Grã-Bretanha, o movimento foi encorajado pelos acontecimentos ocorridos em outros países. Nos Estados Unidos do século XIX, com o debate cada vez mais acalorado sobre a escravatura, as pessoas tomavam consciência de que as mulheres, tal como os escravos, eram oprimidas. Lucretia Mott fundou a Sociedade Feminina Antiescravagista da Filadélfia e, com Elizabeth Cady Stanton, organizou em 1848 a primeira convenção norte-americana sobre os direitos das mulheres. Por todo o país surgiram grupos femininos, e em 1890 formou-se a Associação Nacional do Sufrágio das Mulheres Norte-Americanas.
Em 1893, a Nova Zelândia foi o primeiro país a reconhecer o voto das mulheres, e em 1896 quatro estados norte-americanos haviam concedido o direito de voto às mulheres. Ativistas da Nova Zelândia, Austrália e EUA aconselhavam as britânicas em questões estratégicas e sobre a melhoria da vida e das condições de trabalho das mulheres nos seus próprios países depois de conquistado o direito de voto.

Por que a resistência ao movimento foi tão longa?

Durante toda a campanha as organizações sufragistas enfrentaram a oposição da imprensa, do Parlamento, de profissionais liberais e da Igreja. Mas a oposição não se limitava aos homens; muitas mulheres também se opunham ao movimento, julgando que ameaçava os valores tradicionais da sociedade. O grupo conhecido por Antis apontava as "insuficiências temperamentais e intelectuais das mulheres", descrevendo-as como pessoas ilógicas, emocionais, caprichosas, frágeis e absorvidas em questões triviais e caseiras.
A política era tida como uma atividade pouco feminina que destruía o cavalheirismo. Envolver as mulheres na política, disse o primeiro-ministro Gladstone, seria "uma intromissão na delicadeza, na pureza, no refinamento e na elevação de toda a sua natureza".
Existiam outras preocupações subjacentes na oposição dos parlamentares, que associavam a reivindicação do sufrágio feminino à limitação da natalidade, e receavam que a generalização da contracepção viesse a ameaçar a capacidade futura do país em constituir exércitos. Muitos soldados britânicos tinham sido mortos na Guerra Anglo-Bôer, e as mulheres ultrapassavam em grande número os homens no início do século XX.
Apoiar o sufrágio das mulheres era arriscado para qualquer partido político que quisesse ganhar eleições. O governo continuou a se opor a essa reivindicação até o início da guerra em 1914.

O que levou o governo a mudar de ideia?

Durante a Primeira Guerra Mundial, as sufragistas fizeram uma trégua, mas deixaram claro que redobrariam os esforços logo que o conflito terminasse. Isto levou o governo a fazer concessões. O efeito inicial da guerra consistiu em elevar o estatuto do homem como combatente e realçar a ideia de que o papel da mulher era o de criar homens para os exércitos. Contudo, à medida que as mulheres iam ocupando os lugares deixados pelos homens na indústria e nas funções públicas, as opiniões evoluíram; o número de mulheres empregadas subiu em mais de um milhão na Grã-Bretanha. Este fato foi significativo por questionar os esteriótipos tradicionais e deu às mulheres uma posição para negociar muito mais forte. Também na França as mulheres tiveram papel determinante no esforço de guerra. Apesar disso, só tiveram direito de voto em 1945.

Quem foram as primeiras votantes?

Em fevereiro de 1918, a Lei da Representação Popular concedeu o voto às mulheres britânicas com mais de trinta anos detentoras de certas qualificações econômicas e escolares. Todavia, continuou a ser negado o direito de voto às jovens trabalhadoras. Em 1918, votaram cerca de 8,5 milhões de mulheres. Entre os candidatos ao Parlamento contavam-se 17 mulheres, das quais só uma foi eleita: Constance Markiewicz, uma das personalidades da luta pela independência da Irlanda, que se candidatou pelo Partido Sinn Fein, mas recusou-se a ocupar o seu lugar no Parlamento por motivos políticos.
A primeira mulher com assento no Parlamento britânico foi Nancy Lady Astor, eleita por Plymouth em 1919. Nesse ano, foi aprovada a Lei da Anulação da Desqualificação Baseada no Sexo, que abriu às mulheres as portas de muitas profissões liberais. Em 1928, a idade de voto baixou para os 21 anos, a mesma dos homens. Três anos depois, 15 mulheres eram membros do Parlamento britânico.

Como se alastrou o movimento sufragista?

Apesar do fato de quatro estados norte-americanos terem liberado o voto às mulheres, só em 1920 os EUA, como um todo, concederam o direito ao voto feminino. O primeiro país europeu a conceder o direito de voto às mulheres foi a Finlândia em 1906, seguida da Noruega em 1907, da Alemanha em 1918, da Espanha em 1932, do Brasil em 1934, da França, Itália e Japão em 1945.
A Aliança Internacional pelo Voto das Mulheres foi fundada em 1902 e tratou de organizar conferências em Washington (1902), Berlim (1904) e Copenhague (1906).  A feminista norte-americana Susan B. Anthony presidiu a organização junto com a sufragista inglesa Millicent Fawcett, principal executiva. Embora a WSPU não estivesse representada nessa instituição, desempenhou um grande papel no âmbito internacional. O termo suffragettes foi usado pelo Daily Mail de Londres, em 1906, como um rótulo para se referir às mulheres da WSPU.
Infelizmente a extensão do direito de voto às mulheres foi lenta em certos países.
A Suíça só admitiu o voto feminino em 1971, a Jordânia e Portugal em 1974, Liechtenstein em 1984.



Palavras de protesto.
Cartazes em inglês, francês e alemão divulgam um comício em Londres em que Christabel Pankhurst acusou o governo de "torturar" as mulheres, obrigando-as a se alimentarem à força quando em greve de fome.





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