A queda da Babilônia





Durante toda a primavera e princípio do verão, o exército persa, comandado por Ciro, o Grande, tinha aguardado fora das sólidas muralhas da Babilônia, esperando submeter a cidade pela fome. Era o auge de uma série de campanhas triunfantes nas quais os persas tinham dominado os seus grandes rivais, os medas, e a terra da Lídia, extremamente rica. Com a tomada da Babilônia, Ciro reinaria não só sobre a Mesopotâmia, mas também sobre a Síria e a Palestina, que tinham sido anteriormente conquistadas pelos babilônios.
Cientes das ambições de Ciro, os babilônios haviam armazenado reservas para muitos anos. Mas não perceberam a única e grande fraqueza da defesa da cidade: o rio Eufrates, que atravessava o seu centro. Já Ciro imediatamente o identificou como o caminho por onde o seu exército entraria diretamente no coração da Babilônia. Ele mandou escavar um canal a pouca distância do rio para ligá-lo a alguns pântanos vizinhos. O nível do Eufrates baixou, e quando a água chegou a certa altura, as tropas persas avançaram até a cidade. Os babilônios celebravam um feriado e não perceberam a aproximação dos persas até serem cercados e dominados.
Ciro foi um vencedor compassivo, ao contrário da maior parte dos seus contemporâneos, e foi calorosamente recebido pelos babilônios, que estenderam ramos verdes à sua passagem quando entrou na cidade. Ele, por sua vez, reafirmou a sua boa vontade para com os babilônios assistindo às cerimônias em honra de Marduk, a divindade mais venerada da Babilônia.
The Fall of Babylon, 1819 - John Martin
Assim caiu a Babilônia, pelo menos segundo os relatos dos historiadores gregos Heródoto e Xenofonte. Mas o profeta Daniel, que se encontrava na cidade, considerou a conquista como expressão da vingança divina. Ele descreve, quando os persas se aproximavam da cidade, como Baltasar - a quem Daniel chama de rei da Babilônia, embora fosse apenas regente na ausência do seu pai, Nabonide - dava um banquete a "mil dos seus conselheiros". Os convidados de Baltasar bebiam vinho das taças sagradas dos judeus, que os babilônios tinham trazido do Templo de Jerusalém 47 anos antes, no reinado de Nabucodonosor II. Enquanto festejavam, surgiu uma misteriosa mão que traçou nas paredes as seguintes palavras: Mene, mene, tekel, upharsin.

Do exílio para Jerusalém.

Daniel reconheceu as palavras como derivadas dos nomes de três medidas de peso hebraicas e interpretou a mensagem da seguinte maneira: "Deus mediu o teu reinado e pôs-lhe um termo... Foste pesado na balança e estavas muito leve... O teu reinado foi dividido e entregue aos medas e aos persas." Cumprindo a profecia de Daniel, o exército persa realmente invadiu a cidade, e Baltasar foi morto nessa noite, embora provavelmente pelo seu próprio povo e não por Ciro.
Um dos primeiros atos de Ciro foi acabar com o exílio dos judeus na Babilônia e enviá-los de regresso à Judéia para reconstruírem Jerusalém e o Templo Sagrado de Salomão. Os judeus viram a intervenção de Jeová em todos esses acontecimentos. O profeta Esdras conta como Ciro, inspirado pelo Deus de Israel, permitiu que os judeus voltassem à sua pátria, levando com eles as "cinco mil e quatrocentas" taças roubadas do templo, que tinham sido usadas na festa de Baltasar.
Historiadores gregos e profetas judeus do Antigo Testamento estão de acordo quanto ao poderio e extensão da Babilônia, cujo nome significa "Portão de Deus". Abrangendo uma área de quatro mil hectares, era a maior cidade do mundo, desfrutando ainda da glória alcançou no tempo de Nabucodonosor. O perímetro externo das muralhas duplas da cidade era de 17km, e estas eram protegidas por torres com ameias a intervalos regulares. Dominando os movimentados cais junto ao rio, elevava-se um enorme zigurate - a Torre de Babel, referida no Livro de Gênesis. Tratava-se de uma torre semelhante a uma pirâmide de tijolos de barro que se erguia a uma altura de noventa metros e era visível a quilômetros de distância na planície do Eufrates. A torre era formada por uma série de plataformas ligadas por escadarias que levavam o templo erguido ao topo. Os babilônios referiam-se a ela como Etemenanki (Casa da Fundação do Céu e da Terra). Bem perto encontrava-se o complexo de templos a que davam o nome de Esagila (Casa da Cabeça Erguida), onde Ciro conquistou as simpatias dos babilônios homenageando Marduk.

Jardins e um palácio luxuoso.

Na parte norte da Cidade Velha, sobre o Eufrates, erguia-se o palácio descomunal onde Baltasar pode ter oferecido o banquete na noite fatídica. Não muito longe ficavam os Jardins Suspensos da Babilônia. Entrava-se na cidade por oito portas, sendo que a mais bela era a Porta de Ishtar Dali, o Caminho Processional, com mais de vinte metros de largura, corria para o sul, através da cidade, até a área do templo.
A rendição da Babilônia perante Ciro marcou o fim da sua glória, embora sob os sucessores deste rei se tivesse tornado a capital da província mais próspera do Império Persa. Em 482 a.C, os babilônios revoltaram-se contra Xerxes, que arrasou as muralhas e os templos da cidade e derreteu a imagem de ouro de Marduk. Em 331 a.C., a Babilônia rendeu-se a Alexandre, o Grande, e em 275 a.C., grande parte da sua população foi transferida para uma nova capital junto ao Tigre. Contudo, as suas ruínas mantiveram-se imponentes durante mais de dois mil anos, até 1990, quando Saddam Hussein, destruiu grande parte delas para construir as fundações de uma "Nova Babilônia".