Como Júlio César chegou ao poder?
Caio Júlio César nasceu na família aristocrática dos Júlios por volta de 102 a.C. O cognomen, ou sobrenome, César, significa "cabeludo" - não muito apropriado no caso de Júlio César, bem calvo nos seus últimos anos. O nomen, Júlio, era o nome de família, enquanto o praenomen, Caio, era o seu nome pessoal.
Quando estudante, a caminho dos seus estudos de oratória na ilha de Rodes, no Mediterrâneo, César foi capturado por piratas. Ao pedirem um resgate de vinte talentos, ele declarou que valia cinquenta e jurou que, depois de pago o dinheiro, voltaria para crucificar todos eles. Os piratas pensaram que ele estava brincando, mas logo que o resgate foi pago, César cumpriu o prometido cortando-lhes primeiro a garganta como 'forma de bondade'.
Em 70 a.C., César foi eleito para o cargo de questor, e nessa qualidade foi colocado na província da Espanha. Em Gades (Cádiz), viu uma estátua de Alexandre, o Grande, e pensou que, quando Alexandre tinha trinta anos, já havia conquistado todo o mundo, enquanto ele próprio ainda não tinha feito nada de notável.
De regresso a Roma, César trabalhou incansavelmente para adquirir prestígio. Em 59 a.C., sua influência era tão grande que foi eleito cônsul, o cargo mais alto da República Romana. Com os poderosos Pompeu e Crasso fundou um triunvirato, uma combinação de três homens que detinham as rédeas do poder supremo. César foi nomeado procônsul, ou governador, da província da Gália, com um grande exército sob o seu comando. Entre 58 e 49 a.C., conquistou enormes extensões do território que estava além dos Alpes.
Enquanto isso, Crasso era morto no Oriente Médio em 53 a.C., no decurso de uma campanha desastrosa, e o Senado estava cada vez mais receoso das ambições de César. Pompeu tomou o partido do Senado, que em 49 a.C. mandou César entregar o governo e regressar a Roma. Desobedecendo às ordens, conduziu seu exército através do rio Rubicão até a Itália e provocou uma guerra civil.
Depois de Pompeu ter sido morto no Egito no ano seguinte, César deixou de ter inimigos que realmente o preocupassem. As suas procissões triunfais em Roma foram pouco depois seguidas pela tomada de poderes ditatoriais. Começaram, então, a surgir e a crescer as desconfianças: estava preparada a cena para a conspiração que viria a culminar no drama dos idos de março (haverá um texto somente sobre esse acontecimento).
Por que César atravessou o Rubicão?
Em 10 de janeiro de 49 a.C., Júlio César atravessou um pequeno rio ao norte da cidade de Arminium (hoje Rimini), chamado Rubicão. Seguia-o o formidável exército que formou na sua conquista do que é hoje a França e a Itália Setentrional.
No tempo dos romanos, o rio demarcava fronteira entre a Gália e a Itália, e César sabia que, se as suas tropas o atravessassem, mergulharia Roma numa guerra civil. Mas se obedecesse às ordens, dispersando o exército e em seguida regressando à Roma, teria de enfrentar o seu maior inimigo, Pompeu, e um Senado hostil, receoso do seu crescente poder.
Após um dia observando gladiadores a exercitarem-se, César seguiu até a margem norte do Rubicão e pediu conselho a um grupo de companheiros de confiança. Diz a lenda que César tomou uma decisão ao ver uma figura fantasmagórica que se apossou da trombeta de um dos soldados e atravessou o rio a passos largos, fazendo soar o sinal de batalha. Inspirado pelo que considerou ser uma mensagem divina, César gritou em latim "A sorte está lançada!", e dirigiu as suas tropas através do rio. Ao romper do dia, tinha tomado e ocupado Arminium.
O Rubicão havia sido atravessado, e ele não podia mais voltar atrás.
Como caiu a república?
Roma, segundo a tradição, foi fundada em 753 a.C. pelos lendários gêmeos Rômulo e Remo, e durante os seus primeiros 250 anos foi governada por reis etruscos. Em 510 a.C., o último rei foi expulso e foi fundada uma república. Esta era governada por dois magistrados principais, ou cônsules, eleitos anualmente, que deveriam controlar-se mutuamente. Este sistema era pouco democrático, uma vez que os cônsules provinham dos trezentos membros do rico e aristocrático Senado; contudo, enquanto Roma foi uma pequena cidade-estado, funcionou bem.
Com o gradual crescimento de Roma, a partir do século IV a.C., o sistema começou a falhar. Em 250 a.C., Roma controlava quase toda a Itália, e em 146 a.C., conquistou Cartago, tornando-se a maior potência do Mediterrâneo. Mas em 100 a.C., a república finalmente chegava ao fim. O Senado era conservador e rígido, o fosso entre os ricos e pobres cada vez maior, e assistia-se ao nascimento de uma classe de pobres urbanos formada por camponeses sem terra que invadiam a cidade. Reformadores democráticos como os Irmãos Gracos foram assassinados.
Júlio César foi o último dos homens sedentos de poder que contribuíram para o fim da república, desde Mário (155-86 a.C.), Sila (138-78), Pompeu (106-48) e Crasso (115-53). No entanto, embora a república já estivesse extinta na época da morte de César, os seus assassinos justificaram o seu ato em nome do sistema republicano.
Quem sucedeu César?
Depois de Marco Antônio ter voltado o povo de Roma contra os assassinos, Bruto e Cássio foram obrigados a sair da cidade deixando Marco Antônio no poder. Em 43 a.C., este formou um triunvirato com Lépido, um antigo cônsul, e Otávio, sobrinho, filho adotivo e herdeiro de César.
O primeiro objetivo do triunvirato foi vingar a morte de César. Depois de ordenar a execução de várias centenas de romanos, concentrou a sua atenção em Bruto e Cássio, que tinham unido forças e formado um exército para lutar em nome da república. Os dois homens suicidaram-se em 42 a.C. ao serem derrotados por Marco Antônio.
O triunvirato dissolveu-se pouco depois, Lépido foi afastado, e entre Marco Antônio e Otávio eclodiu uma feroz guerra civil. Antônio foi finalmente vencido na Batalha de Áccio, em 31 a.C., e suicidou-se no ano seguinte.
Otávio tomou o título de César Austo e adquiriu poder absoluto, civil, militar e religioso, até a sua morte, em 14 d.C. Na verdade, foi ele, e não Júlio César, o primeiro imperador romano, e a sucessão imperial por ele iniciada durou mais de quatrocentos anos.
Recomendação cinematográfica:
A série Império Romano é uma carta de amor aos historiadores (ou amantes da História em geral), estou falando de uma das melhores séries da atualidade (na minha humilde opinião). São duas temporadas com assuntos distintos (a primeira, chamada "Império de Sangue" que retrata o período final do império de Marco Aurélio e "ascensão" do seu filho, Cômodo, e a segunda "O Senhor de Roma", que fala um pouco sobre a vida de Júlio César (tema deste texto), todos os episódios são comentados por grandes acadêmicos e embora não tenha um grande aprofundamento dos personagens em voga (nada que diminua a qualidade do desenvolvimento da série), descrevem o que podem no "curto tempo" dos episódios que
- Veja também: 44 a.C.: O assassinato de Júlio César