Júlio César era visto pelos seus assassinos como um futuro tirano, mas outros consideravam-no um grande patriota e reformador.
Ao fim da manhã de 15 de março, em 44 a.C., Júlio César assistiu a uma sessão do Senado como de costume. Após sacrificar alguns bois, dirigiu-se para a Cúria, onde se reunia o Senado. Quando ia sentar-se, aproximaram-se dele vários senadores, entre eles Marco Bruto, Cássio e Casca. A um sinal pré-combinado, todo o grupo, com os punhais desembainhados, se precipitou sobre César.
O primeiro golpe, desferido por Cássio ou por Casca, feriu César na garganta, ele tentou defender-se com um estilete, ao ver o número de inimigos, puxou a toga sobre a cabeça e submeteu-se às punhaladas. Apenas gritou uma vez, dizendo em grego, quando viu Bruto entre os conspiradores: "Até tu, Brutus?". Com 23 feridas, cada uma de um conspirador, caiu junto da estátua de Pompeu, o seu grande inimigo, encharcando sua base de sangue.
Supersticioso, como um típico romano, César devia ter sido suficientemente cauteloso para não assistir à sessão do Senado no dia 15 de março. Um adivinho avisou a César que ficasse "atento aos idos de março" - o 15º dia do mês. Os historiadores descreveram presságios que prenunciavam a morte do imperador. No dia anterior, os cavalos que o acompanharam através do Rubicão cinco anos antes haviam-se recusado a comer e tinham vertido lágrimas, enquanto uma carriça - ave que os romanos julgavam ser a rainha dos pássaros - fora despedaçada pelas suas companheiras.
Nessa noite, Calpúrnia, mulher de César, sonhou que o marido foi apunhalado na sua presença e suplicou-lhe que não saísse de casa nesse dia. De qualquer modo, César sentia-se doente - sofria de epilepsia e talvez tenha sentido que ia ter um ataque - e resolveu ficar em casa. Os conspiradores, porém, enviaram outro membro de confiança do grupo de Bruto, conhecido por Décimo Bruto, para convencer César a assistir ao debate no Senado. Marco Bruto, o chefe dos conspiradores, era admirado pelos seus princípios republicanos e pela sua honestidade. Era descendente de Júnio Bruto, o fundador da República Romana.
O conluio contra César foi em parte um assunto de família. A mulher de Bruto, Pórcia, era filha de Catão, um grande republicano, e Cássio era cunhado de Bruto.
O protegido trama a morte.
Nascido por volta de 85 a.C.. Bruto era cerca de 17 anos mais novo do que César. Durante a guerra civil de 49 a.C. entre César e Pompeu, Bruto aliou-se a Pompeu, mas acabou passando pro lado de César, tornando-se seu protegido. No final da guerra, o poder de César era indiscutível e Bruto começou temer que ele tentasse estabelecer uma espécie de monarquia.
Esse receio foi reforçado em 47 a.C., quando César passou um mês a comemorar seus triunfos com procissões em Roma. Nessa ocasião, obteve votos que lhe deram poderes ditatoriais e o título de Pater Patriae (Pai da Pátria). César provocou a hostilidade do Senado ao abri-lo a um número muito maior de cidadãos, nomeando os seus amigos para altos cargos e implementando um vasto programa de reforma de impostos e de legislação. Os romanos comuns voltaram-se então para Bruto como o homem que os podia salvar de um regresso à tirania dos tarquínios. Na estátua de Júnio Bruto foi rabiscada a mensagem: "Quem dera Bruto ainda vivesse", e o seu descendente, Marco Bruto, estimulado por frases como "Bruto, estás dormindo" e "Não és Bruto, na verdade" pintadas nas muralhas da cidade, acabou tornando-se o líder natural da conspiração.
A situação agravou-se a 15 de fevereiro de 44 a.C., quando ofereceram a César a coroa da realeza e ele pareceu relutante em recusar a honra. Corriam boatos de que ele iria em breve em campanha para o Oriente, o que deixava pouco tempo aos conspiradores. Assim, eles marcaram a data do assassínio para daí a um mês.
No dia 15 de março. Bruto partiu para o Senado levando um punhal, o que ninguém sabia a não ser sua mulher, Pórcia. A tensão de estar ciente da conspiração foi demais para ela. Perguntando a quem vinha do Fórum o que se passava, acabou desmaiando tão profundamente que os vizinhos pensaram estar morta e enviaram uma mensagem a Brutos, mas ele, segundo Plutarco, manteve-se no Senado, decidido a cumprir seu dever.
Logo que seu assassinato foi consumado, os conspiradores perceberam de que cometeram um erro. Marco Antônio, o principal aliado de César, atiçou a fúria da multidão, mostrando-lhe o cadáver mutilado e lendo em voz alta o testamento de César, que incluía a doação de uma soma em dinheiro aos cidadãos romanos e a cessão de terras para parques públicos.
Agarrando o corpo, o povo invadiu o Senado e atirou para fora bancos e mesas, despedaçando-as para fazer uma pira funerária. Com tochas nas mãos, percorria a cidade tentando incendiar as casas dos conspiradores, mas em vão. Um relato diz que o corpo de César foi transportado num esquife de marfim e coberto com panos em púrpura e ouro.
Logo que o fogo da grande pira funerária foi ateado, a multidão lançou mais madeira nas chamas, os soldados empilharam as suas armas, armaduras e mulheres ricas ofereceram as suas joias.
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